maquilho-me no camarim. invado o meu rosto com cor branca. cor azul. cor vermelha. posso parecer um mimo. um palhaço ou então uma mulher mal maquilhada. cada um me interpretará como lhe for mais fácil ou como lhe parecer mais óbvio.
De cada vez que subo ao palco, fico nervosa, tremo as pernas, as mãos. a barriga dá um nó. Para mim as luzes, sempre vão ser agressivas, a encandear-me. Quando contracenamos há o medo de esquecer das falas ou de dizer algo fora do tempo, falhar aquilo que todos ensaiámos antes de entrar em palco.
Finjimos que somos isto, que somos aquilo.assim,assado. Blá Blá. Uhuhuh. Ahaha!
Eu sei que o público assiste-nos, cuidadosamente e atentamente sentado nas cadeiras de veludo vermelhas, cor da paixão, da volúpia, da luxúria, ou então só cor que é cor vermelha. O mesmo público que não vê as nossas falhas mesmo quando falhamos. Somos bons a improvisar.
Riem-se quando acham por bem. Acham rídiculo quando lhes aptece. Mas também choram. Choram baba e ranho. E sentem-se incrédulos quando também se surpreendem e sentem-se atingidos. Ninguém escapa à nossa actuação, porque é boa demais.
Às vezes não batem palmas no fim. Às vezes saem antes do fim, com desrespeito. Já atiraram flores, outras vezes tomates.
O melhor momento é quando trocamos. Eu sento-me na cadeira vermelha de veludo, e os sentados no veludo passam para o palco. Aí vemos nós as falhas, os erros, os esquecimentos, a falta de jeito para representar.
Quando volto ao camarim para me desmaquilhar, olho para o espelho e sorrio.
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