sexta-feira, outubro 01, 2010

desassossego

O realizador português João Botelho decidiu transpôr para o grande ecrân "O livro do Desassossego" escrito por Bernardo Soares, um dos heterónimos do Fernando Pessoa. Eis pois, que estreia " O filme do Desassossego".
É preciso alguma coragem para adaptar Fernando Pessoa ao cinema.

Assim, o realizador achou que colocar o filme nas salas convencionais de cinema, onde abunda o barulho incómodo das pipocas, iria chocar com a dignidade da sua obra. Por isso, decide estrear o filme no CCB, e após essa estreia, o filme apenas vai estar em algumas salas do país do tipo cine-teatros. Ao que parece, as sessões do filme no CCB estão esgotadas. A produção está muito contente, porque isto significa já cerca de 3000 mil bilhetes vendidos, quando a maior parte dos filmes portugueses, dizem eles, rondam os 5000 mil espectadores. ( note-se, Lisboa é o início da digressão.)

A estratégia foi boa. Os ingredientes são :

a) Fernando Pessoa. É capaz de ser das poucas personagens unânimes neste país. É sem dúvida o maior poeta aqui da zona, e isso desperta maior curiosidade no público.

b) CCB. Tem outra piada ir ver um filme ao CCB. É ainda mais intelectual ir ver o filme do dessassossego ao Centro Cultural de Belém, em vez de irmos ao Colombo.

c) O facto de passar em poucas salas, e de em Lisboa ter quatro ou cinco sessões faz do acontecimento algo mais exclusivo. ( para quem se interessa por isto).

Resumindo : um filme que podia ser um flop comercial ( já sabemos os resultados do cinema português...) que fala do grande Pessoa, disfarça-se com a protecção e dignidade da obra, coloca-se no CCB e outras pequenas salas no resto do país, temos resultados satisfatórios para as bilheteiras, com todos a ficar muito bem na fotografia e o cinema português a ganhar um pequeno protagonismo.


nota : amanhã vou ver o filme. Depois conto. Ou
achavam mesmo que eu ia perder isto?

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