Não entendo porque é que até hoje, ainda não tinha reflectido pelo facto de o meu blog ter poucos relatos sobre o meu Erasmus. Sim, faz este ano 4 anos sobre o meu regresso de Milão (autch), mas nunca é tarde demais para partilhar algumas peripécias, e as lições que delas tirei.
Momento de inscrições. Locais possíveis de escolha? Milano, Firenze, Roma.
Ordem de preferência escolhida: Roma, Florença, Milão.
Roma é que deve ser bom! Milão deve ser feio.
" Tou sim boa tarde, é a Kit Kat? Olhe, daqui é a ... do gabinete de Erasmus da sua faculdade, é para lhe dizer que como é a primeira suplente em Roma, houve aqui uma troca, e se quiser tem um lugar disponível para si ( e isto só é válido para si) em Milão. Ah, tá certo. Pai, Mãe, vou para Milão. Mas vou só seis meses ( vais, vais...)
Dia 1 de Outubro. Voo marcado para Milão Malpensa.
Reunião de preparativos com a colega M. na praça de Londres. Malta, vou para Milão, fazer Erasmus!! Ehhhhh que sortuda! Dia 1 de Outubro.
Malas feitas, pesadas, Aeroporto da Portela à vista. Pai, Mãe, não chorem.
Ok, eu também estou a chorar, mas é por vossa causa.
Ci siamo in Italia.Rumamos ao Ostello della Giuventú que ficava na fermata Q10 ( ou coisa que o valha).
Ainda me lembro de estar a subir aquelas escadas com as malas gigantes. Não me lembro de quantas noites reservámos de início, mas ficámos lá ONZE noites. Uma, duas, três..sete, nove...onze! Consequências de " Epá, aquilo em Milão é um cazzo para arranjar alojamento". Rotina : Acordar cedíssimo, e verificar que na rua do Ostello às 10h da manhã havia prostitutas alojadas na paragem do BUS , fazer 300 chamadas por dia para encontrarmos alojamento, usando e abusando do meu italiano ainda enferrujado, ir conhecendo a cidade e chegarmos à conclusão " ah, mas não é assim tão feio como dizem!". À noite, aproveitamos o jantar delicioso que serviam nas máquinas automáticas do Ostello e juntávamo-nos à grupeta de amigos que fomos arranjando. Portuguesas, alemão, brasileiros, neo-zelandeses. Recordo-me particularmente dos dois brasileiros : um queria ser jogador de futebol em Itália, o outro com o tempo revelou-se digno de personagem de filme : vinha reclamar um pedaço de terra de um avó italiano e bla bla... coisa de mânfios, na certa. Ou imaginação delirante.
Vimos várias casas. Perdiamos-nos naquela maldita cidade. Ou a casa era cara, ou era longe, ou não alugavam por 6 meses. Uma dessas peripécias tem que ser partilhada. A casa era de uma senhora velhinha, amorosa. Era um pouco doente ( tinha tido provavelmente uma trombose) e mal se mexia de um lado do corpo e tinha um olho praticamente inutilizável e fechado. Queria que nos portássemos bem, claro, íamos viver com ela. E nós a torcer o nariz.
De repente, vejo o gato da velhinha a passar na porta da cozinha. O gato era igual à dona. Tinha também o olho inutilizável e fechado. Pensamento - vamos JÁ embora.
Demo-nos com mais um anúncio. Vá de ligar mais uma vez. M, estou farta disto. Kit Kat, anche io.
Scusa, scusi ( tratava toda a gente por tu) coiso e tal, somos duas queremos ver o quarto. Do outro lado, uma péssima ligação, a pessoa do outro lado com cortes na fala e na ligação. Nós a pensar..isto é brincadeira. Está a gozar! Não, o tipo era mesmo gago.
Não me vou esquecer do momento que entrei na casa, em que conhecemos o Fabrizio B, o Fabrizio C, a Anna Maria e o Simone. Quando eles nos mostraram o nosso quarto, quando nos perguntaram se queriamos lá ficar e nós com o sorriso mais aliviado do mundo " sim" e quando eles nos disseram que bom, que gostavam de nós.
Via Mercadante, 3. Aí estava finalmente o nosso poiso, onze longos dias depois.
Primeira conclusão : Se consegui arranjar alojamento em Milão, dá para desenrascar qualquer outra situação.