sexta-feira, agosto 26, 2011

amanha é sábado

"Não trouxe os óculos, mas estou-te a ver".


Aquela voz rouca soou-me aos ouvidos, perdida no meio daquela confusão, vinda das profundidades superficiais daquele corpo encostado naquele corrimão, daqueles olhos negros e profundos que me olhavam com um misto de delícia e distância.


O click da empatia foi rápido, inesperado e como nos filmes, falámos de filhos, de trabalho, de lugares que gostavámos, do que queriamos para o futuro e onde queríamos estar.

Numa tentativa frustrada da vida de me impressionar, percorremos Lisboa a pé, demos dinheiro aos sem abrigo, e vimos que 1km de distância nos separava todas as noites.


Não sei quanto tempo se passou nos entretantos,das vontades cruzadas, das indisponibilidades emocionais, dos desejos carnais agudos, da partilha do sofá, das histórias das vozes que existem na cabeça de cada um e das permanentes e infinitas insinuações.


Aquela gargalhada fácil e aquela voz rouca ainda soa na minha cabeça para me fazer lembrar que tem dia que noite é foda.

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