segunda-feira, março 29, 2010

estupidez intelectual

Há muitas vantagens em ser-se solteiro. Essa condição é ainda mais confortável quando sabemos aproveitá-la.

No entanto, sei o que me mais me faz falta. Numa das fases mais tristes da minha vida, quase que deixei de ir ao cinema, de ler livros, de ver filmes em casa, de ir ao teatro, de ouvir música nova... e não entendia porquê, quando é aquilo que mais me dava (dá) prazer.

Agora entendo : deixei de ter com quem partilhar a estupidez intelectual que cultivo.
Partilha-se com os amigos e com os interessados, é certo, mas a Kit-Kat por vezes gosta de ser intelectualmente fundamentalista e de estar a discutir até ao ínfimo pormenor um detalhe de um filme que lhe fez lembrar outro filme, ou uma passagem de um livro que a incomodou.
E eu deixei de ter com quem partilhar isso -com quem se interesse da mesma forma que eu e que tenha paciência para me ouvir e discordar comigo até que nos cansemos. Eu não posso mandar uma mensagem às 3h da tarde a alguém a dizer que me estou a sentir como a personagem do Milan Kundera. Ou ficar meia hora a dissertar sobre o fantástico actor que acabei de ver no palco.
Os meus amigos aturam-me, mas não tanto.

Lentamente, recupero os hábitos, mas sim, sinto sempre um vazio cada vez que acabo de ler um livro ou de ver um filme. Sentir a falta "daquela" companhia. Daquele "cavaleiro andante" que morasse no meu livro de aventuras.

Vou sentir de novo isto quando terminar o livro do Pepetela que estou a ler e quando terminar de ver o filme " De tanto bater o meu coração bateu".

E senti tudo isto ainda mais profundamente enquanto ensaiava e enquanto estava em palco.

4 comentários:

felipe disse...

As vezes sinto o mesmo, este vazio que relataste, especialmente nestas ocasiões. E nem sempre os amigos estão a disposição. Mas o que seria de uma mulher ou um homem moderno sem estes sentimentos? É o jeito da natureza dizer que sozinhos não somos suficientes, e garantir a perpetuação da espécie

Kit-Kat disse...

Caro Vento,
Nunca tinha pensado dessa forma... se é que esta espécie de vazio, ainda que temporário faça parte daquilo a que pensamos ser o homem ou a mulher modernos.... mt interessante de facto.

felipe disse...

Entendo...

OBS: só para naum ficar lacunas, quando refiro-me ao "adjetivo moderno" apenas ilustra nossos tempos, e não uma referencia a algo melhor. nem sempre o moderno é melhor, apenas recente.

Kit-Kat disse...

não referi como algo melhor ou pior, mas sim como caracteristicos dos nossos tempos :)